Por Everton Santana
A virada digital no sistema bancário
A digitalização transformou-se em um divisor de águas para o setor financeiro brasileiro. Se há uma década o atendimento presencial e o internet banking eram predominantes, hoje o mobile banking ocupa o centro da experiência do cliente. De acordo com a Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN), 82% das transações já são realizadas por canais digitais, consolidando o Brasil como um dos mercados mais dinâmicos em bancarização tecnológica.
Essa mudança não se limita ao hábito do consumidor: ela redefine processos, modelos de atendimento e, sobretudo, a estratégia competitiva das instituições financeiras. O smartphone tornou-se a nova agência bancária.
A ascensão do mobile banking
Aplicativos móveis permitem consultas, transferências, pagamentos e contratação de serviços em poucos cliques. Em 2024, foram registradas 208,2 bilhões de transações bancárias no país, um crescimento de 8% em relação ao ano anterior. Desse total, 75% ocorreram por dispositivos móveis, consolidando o celular como canal predominante. O público corporativo, tradicionalmente ligado ao internet banking, também migra gradualmente para soluções móveis em busca de agilidade.
Além da conveniência, o mobile banking avança apoiado em tecnologias de segurança — como autenticação biométrica e criptografia — e no apelo da disponibilidade 24/7. A experiência digital tornou-se o novo padrão.
Pix: protagonista da revolução
O fenômeno mais expressivo desse movimento é o Pix. Em 2024, a modalidade registrou quase 25 bilhões de transações via smartphones, um crescimento de 41% em relação a 2023. O sistema de pagamentos instantâneos não só popularizou operações financeiras rápidas e gratuitas, como também ampliou a inclusão financeira ao integrar milhões de brasileiros à economia digital.
Segundo a FEBRABAN, cada conta bancária realizou em média 55 operações por mês no último ano, sendo 92% delas de pessoas físicas. O dado revela a centralidade do digital na vida financeira cotidiana.
As agências e o novo papel consultivo
A evolução tecnológica redesenhou também a função das agências físicas. Antes sinônimo de atendimento e filas, hoje elas se reposicionam como centros consultivos e especializados, voltados a operações complexas ou de maior valor agregado. A jornada do cliente tornou-se híbrida, mas nitidamente orientada pela conveniência do digital.
O movimento é respaldado por investimentos robustos: somente em 2024, os bancos brasileiros destinaram R$ 47,8 bilhões em inovação tecnológica. A aposta é clara: oferecer personalização, eficiência e segurança para garantir fidelidade em um mercado cada vez mais competitivo.
O futuro das relações bancárias
A digitalização bancária no Brasil já não é tendência, mas realidade estrutural. A consolidação do mobile banking e o protagonismo do Pix demonstram a irreversibilidade do processo. Ao mesmo tempo, o avanço abre espaço para novos debates regulatórios e jurídicos, como a proteção de dados pessoais, a segurança das transações digitais e a garantia de acessibilidade universal.
Para executivos e formuladores de políticas, o desafio estratégico é equilibrar inovação e segurança, conectividade e regulação. O DNA das transações bancárias brasileiras foi redefinido: ele pulsa agora no compasso da tecnologia, da eficiência e da centralidade no cliente.
Everton Santana é sócio do Queiroz Cavalcanti Advocacia. Advogado formado pela Universidade Católica de Pernambuco. Pós-graduado em Processo Civil e em Direito Público, com experiência em demandas contenciosas e consultivas, atuando de forma estratégica na defesa de interesses jurídicos.